Poesía traducida al portugués

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(Traducción realizada por Leopoldo Guimarães)

 

 

As ruas do nosso ontem

Nada

 
 
As mesmas ruas que ontem
 amámos juntos, gritam hoje
 que dois, não são um mais um.
Tristes, olham os nossos corpos
impregnados de flor de laranjeira,
... sem aroma algum.
E essas fontes, que banharam açoradas
cada gota do meu amor, choram hoje
ao confirmar tanta fascinação
detida ontem,
tanta fascinação... alcançada
no latejo de um absurdo.
 
Não me agrada ser mais velha e olhar-te,
envenena-me tanto amor embotado,
tudo, em vão, oprime o ar,
e, eu, a minha vida contigo, em vazio
 
Necessito de paz e encontrar-me.
Agora devo enfrentar depressa o meu engano.
Por isso, diz-me:
Que aconteceu ao luzeiro dos teus olhos
que, em silêncio,
mesmo o céu apagava?
Que caminho de vibrantes respostas
tomarão as minhas mãos, vazias, na sua ânsia?
De que boca beberão os meus lábios,
se os meus beijos tiveram sempre dono?
Diz-me. Que faço eu,
com tanto amor que trago dentro? 
Onde guardo a minha ilusão                   
se não existem gavetas no tempo?
 
Silencio. Dorme o medo

 

 

 

A história não foi feita para mim...
 e, inconstante o destino, navega comigo.
 Atada a minha vida à tua;
 se te olho, não durmo;
 se te beijo, não vivo.
 Nada se fez para mim,
 e, tudo,
 o trazes contigo.
 Os teus olhos, serenos de sabre,
 num instante, que perdura,
 completam a minha vida
 como selo indelével de loucura.
 Talvez, não tenhas nascido para mim,
 mas hoje, contas comigo,
 Amanhã, quiçá amanhã,
 o meu nada, se complete com vazio,
 mas hoje,
hoje, meu amor,
a minha vida
enche-se contigo.

     

 

 

 

      E olho-te

 

 O riso do louco

 
            Quando chegas e te olho,
            e me abraças, e te beijo,
            e, de novo, me estremeço
            com a essência do teu ser,
            quisera então cerrar meus olhos e
            sentir que sinuoso invadiras
            cada poro da minha pele,
            ou que, imponderável,
            pelo meu nariz, inteiro, entraras
            para fazer-te inteiro meu
            para tomar-te todo inteiro,
            para, inteiro, ancorar-te o coração,
            de forma tal,
            que, omnipotente, mesmo o teu ser
            reinventasse o meu próprio ser;
            para fazermos um todo;
            um só, amassado no anelo
           de uma só esperança,
            com um só amanhecer

 

              

 
                   Dorme menino, dorme já,
                   que vem o papão e te comerá.
 
                    Brancos e negros,
                    gigantes e anões,
                    bruxas muito monjas,
                    todos ao mesmo tempo.
 
                    Mamã, conta-me um conto.
 
                    Alcaides, loucos,
                    putas enfermas,
                    velhos muito obscenos,
                    vinganças à distância.
 
                    Mamã, antes de ires
                   dá-me outro beijo.
 
                    Piratas do tempo
                    jogando às damas
                    com seres alheios.
                    Feridos absurdos.
                    Embusteiros de merda.
                    Covardes. Grosseiros.
                    Cansaço de um povo.
 
                    Mamã, sabes que te amo?
 
                    Quebram-se espelhos
                    pintados de crianças. *
                    Despojos de morto
                    acreditando-se vivo.
                    Um grito. Não olhes.
                    Nem crianças nem velhos,
                    Nem negros nem brancos,
                    Nem vozes de monjas
                    Cantando aos mortos.

 

                    É o riso do medo.

 

 (Primer Premio Huerta de San Vicente de García Lorca, 2003)

 

 

 

 

 

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