A EVOLUÇÃO CRONOLÓGICA DA CULTURA CASTREJA E OS MODELOS INTERPRETATIVOS SÓCIO-CULTURAIS: ENSAIO DE SÍNTESE

SYNTHESIS ESSAY OF «CULTURA CASTREJA» CHRONOLOGICAL EVOLUTION AND THE SOCIO CULTURAL MODELS

LA EVOLUCIÓN CRONOLÓGICA DE LA CULTURA CASTREÑA Y LOS MODELOS INTERPRETATIVOS SOCIOCULTURALES: TENTATIVA DE SÍNTESIS

Maria de Fátima Matos da Silva

Resumo
Neste trabalho apresentamos um ensaio de síntese, sem pretensões exaustivas, sobre os diversos modelos interpretativos sócio-culturais e a evolução cronológica da Cultura Castreja da Idade do Ferro. Sumária e pontualmente inserimos alguns novos dados da área geográfica que temos vindo a estudar – a bacia superior do rio Coura - nas problemáticas em questão.

Palavras-Chave
Cultura Castreja; Idade do Ferro; Cronologias; Modelos sócio-culturais.

Summary
In this article we present a synthesis assay, without exhausting pretensions, about the diverse socio cultural interpretations models and the chronological evolution of the Castreja Culture (Hill forts) of the Iron Age. We insert a few of new given of the geographic area that we have come to study - the superior basin of the river Coura.

Keywords
Hill forts; Iron Age; Chronologies; Socio cultural models.

Resumen
En es trabajo presentamos una hipótesis de síntesis, relativa a los modelos interpretativos socioculturales y la evolución cronológica de la Cultura de Castreña de la Edad del Hierro. Insertamos puntualmente los datos del área geográfica que hemos estudiado – la cuenca superior del río Coura.

Palabras claves
Cultura Castreña; Edad del Hierro; Cronologías; Modelos socioculturales.


HISTORIOGRAFIA DA INVESTIGAÇÃO DA IDADE DO FERRO DO NOROESTE PENINSULAR

Os estudos da Idade do Ferro do Noroeste Peninsular confundem-se com a investigação dos povoados fortificados, geralmente designados castros, citânias ou cividades.

Em diversos autores da antiguidade clássica, tanto gregos como latinos, encontramos referências aos povos do noroeste peninsular, algumas vezes de forma generalizada, outras de maneira mais concreta. Em relação à Galiza, esses textos foram reproduzidos parcialmente e comentados em obra, onde também se pode consultar diversa bibliografia antiga (ROMERO MASIÁ e POSE MESURA 1988).

Entre os autores clássicos que nos forneceram elementos mais pormenorizados sobre os povos da Idade do Ferro, refira-se Plínio, que visitou a Hispânia, descrevendo os conventus jurídicos, o seu número de habitantes, os povos e os seus costumes, as explorações auríferas, entre outros elementos.

Outro autor de referência é Estrabão, que apesar de nunca ter estado na Península Ibérica, baseou os seus escritos do famoso Livro III da Geografia em autores anteriores e em relatos de contemporâneos. Nesta publicação, que deve ser lida de forma crítica, descreve os povos do noroeste peninsular, referindo-se aos seus usos e costumes.

Deixando os autores clássicos – outros haveria a mencionar –, e dedicando-nos apenas à historiografia castreja de finais do século XIX, do século XX e de inícios do XXI, temos uma vasta bibliografia portuguesa e espanhola, sobretudo galega, que se dedicou largamente e através dos tempos a diversos assuntos relacionados com a “Cultura Castreja”.

Tanto em Portugal como em Espanha, apesar da existência de diversas publicações, não existe uma obra sobre a historiografia desta época, embora existam diversos autores que tenham escrito artigos ou capítulos de livros sobre o tema (LEMOS 1985; SILVA 1986; MARTINS 1990, SILVA 1996; TABOADA CHIVITE 1973; ACUÑA CASTROVIEJO 1991 e 1996; CALO LOURIDO 1993).

Em Portugal há a destacar, entre os autores pioneiros, Francisco Martins Sarmento, que se dedicou sobretudo aos estudos da Citânia de Briteiros e do Castro de Sabroso, com uma extensa bibliografia compilada em obras como os Dispersos (1933), F. A. Pereira (1933; 1938-1941) e Abel Viana (1926a; 1926b; 1930; 1932), que se dedicaram, sobretudo, ao estudo de castros alto-minhotos.

Aos trabalhos destes pioneiros segue-se a continuação dos estudos em Briteiros, através de Mário Cardoso (1937; 1938; 1946; 1952; 1953; 1959; 1962; 1980), e as investigações na Citânia de Sanfins, com Afonso do Paço, em diversos castros transmontanos, com especial destaque para o de Carvalhelhos, com Joaquim dos Santos Júnior.

Tal como os primeiros, também este grupo de investigadores travou relações de intercâmbio de ideias com os homónimos galegos, o que levou, posteriormente, à organização de reuniões periódicas nos dois países, de que se destacam os Seminários de Arqueologia do Noroeste Peninsular, organizações onde se davam a conhecer as novidades arqueológicas e se trocavam experiências e conhecimentos.

Contudo, só nos últimos vinte anos do século XX foi possível avançar significativamente no conhecimento da cultura castreja do noroeste peninsular. Para isso contribuíram os trabalhos de Hawkes, através dos estudos estratigráficos efectuados em diversos castros do norte (HAWKES 1984). Elaboraram-se também diversos trabalhos sobre ourivesaria, escultura e decoração arquitectónica castreja, clarificando-se problemas até aí existentes. Resolveram-se dúvidas sobre a funcionalidade dos monumentos com forno e “pedra formosa”. O estudo da cerâmica foi sistematizado nas obras de C. A. Almeida (1974), que considera a existência de quatro estilos (A a D), estabelecendo uma sequência cronológica e uma hipótese de tipologia baseada na forma, e J. Rey Castiñeiras (1982; 1983; 1986-87) que estabelece outra tipologia e outra evolução cronológica.

As últimas gerações de arqueólogos portugueses preocuparam-se essencialmente com o estudo evolutivo dos povoados. De entre as diversas obras publicadas destacam-se as de Carlos A. Almeida (1983; 1984), Armando C. Silva (1983-84; 1986; 1990) e o trabalho de Jorge Alarcão (1992).

É, em suma, graças aos trabalhos de investigação de Carlos Alberto Ferreira de Almeida, infelizmente já desaparecido, Armando Coelho Ferreira da Silva, Manuela Martins e Francisco Queiroga (os três últimos, sobretudo através das suas teses de doutoramento e trabalhos posteriores), que a cultura castreja do noroeste português, na sua área meridional, tem vindo a ser bastante mais conhecida.

No que se refere aos estudos galegos, a obra Protohistoria. Los castros gallegos de A. del Castillo, publicada em 1907, é considerada a primeira publicação especificamente dedicada aos castros, embora o autor lhes atribua a categoria de fortalezas.

A etapa compreendida entre os princípios do século XX e a Guerra Civil espanhola proporcionou as primeiras escavações sistemáticas levadas a efeito em castros, fruto do trabalho do Seminário de Estudos Galegos, criado em 1923. A partir de 1914, iniciou-se, também, as escavações em Sta. Tecla, que continuaram até 1923 (CALVO 1914, 1920, 1924).

De entre os diversos objectivos que pautaram a criação do Seminário de Estudos Galegos há a destacar a criação de uma terminologia científica (BOUZA BREY 1926), a criação das bases para o levantamento dos castros existentes e, posteriormente, a elaboração de uma síntese sobre o que se conhecia até então sobre a Cultura Castreja.

No pós Guerra Civil retomam-se as escavações em povoados bem conhecidos como: Baroña, Borneiro, Castromao, Elviña, O Neixón, Troña, Vigo e Viladonga.

Em 1944, é criado o Instituto Padre Sarmiento de Estudios Gallegos, onde continuarão alguns dos investigadores do Seminario, que edita os Cuadernos de Estudios Gallegos. Alguns dos nomes de maior destaque pela obra que produziram são os de F. Lopez Cuevillas (1933; 1947; 1951, 1953, 1989), Maluquer de Motes (1973; 1975b; 1987-88) e Taboada Chivite. O primeiro escreve, em 1953, a obra La civilización céltica en Galicia, ainda hoje considerada, pelo menos em alguns aspectos, uma obra de consulta obrigatória.

Na década de 80 do século XX, sobretudo devido à actividade dos novos arqueólogos saídos das universidades, verifica-se um incremento das investigações. Durante este período desenvolvem-se escavações em diversos povoados, alguns em continuidade, outros pela primeira vez, evidenciando-se as levadas a efeito em Troña, Vigo, Torroso, Sta. Tecla, Penalba, Viladonga, Baroña, Borneiro, Castromao, San Cibrán de Lás y A Graña.

As escavações de Torroso, Penalba e A Graña tiveram o mérito de anteciparem para os séculos VIII-VII a.C. a ocupação dos povoados fortificados da Idade do Ferro, enquanto que outras, como as realizadas na Citânia do Monte Mózinho, na área portuguesa, e em Sta. Tecla e San Cibrán de Lás, na área galega, revelaram as transformações deste tipo de povoados no período posterior ao contacto com os romanos.

As publicações editadas apresentam muitas vezes um carácter monográfico, baseado no estudo de um povoado em particular, enquanto outras, desenvolvem uma análise espacial ao povoamento na Idade do Ferro, como, por exemplo, as obras dedicadas a diversas áreas geográficas da Galiza: Trasdeza, Viana do Bolo, região ocidental da Corunha (AGRAFOXO PÉREZ 1989), Santiago de Compostela, entre outros. Existem ainda outras obras que se dedicam ao estudo de temas diversos relacionados com a cultura castreja como a arquitectura (ROMERO MASIÁ 1976; CARBALLO ARCEO 1996), o estudo evolutivo dos povoados (ACUÑA CASTROVIEJO 1977; FARIÑA BUSTO 1983), os povoados e a sua relação com os sistemas de exploração mineira (LUZÓN et alii 1980), ou, ainda, a revisão dos conhecimentos sobre a Cultura Castreja (PEREIRA MENAUT 1983; CALO LOURIDO 1993; HIDALGO CUÑARRO 1996; FERNÁNDEZ-POSSE 1998).

Ao longo dos tempos, como vimos, várias discussões têm motivado os investigadores no sentido de encontrar soluções para os diversos problemas que o estudo da Idade do Ferro do nordeste e noroeste peninsular tem levantado. Um deles está relacionado com a área de implantação da cultura representativa desta época cronológica no norte de Portugal e na Galiza, e com os povos que teriam ocupado essa área. Actualmente, embora já não suscitem tantos debates, são problemas que continuam em aberto, uma vez que não estão, na realidade, solucionados.

Outro problema que, de igual forma, tem levantado questões pertinentes é o da origem da planta circular das habitações e a sua evolução formática. Este tema, tal como a petrificação das estruturas caracterizou grande parte da literatura sobre a Cultura Castreja, desde Cuevillas até aos anos oitenta do século passado.

Nos últimos anos, os arqueólogos tem posto em causa inclusivamente a utilização indiscriminada dos termos castro e cultura castreja (HÖCK 1980; MARTINS, 1988; 1990), uma vez que, os povoados do Bronze Final e os característicos da Idade do Ferro reflectem realidades diferentes - daí não poderem ser denominados da mesma forma e, evidentemente, não poderem ser englobados numa mesma cultura, como se tem vindo a fazer.

Tradicionalmente, o termo Castro definia um povoado amuralhado, com construções pétreas, localizado geralmente em altura, com um grande desenvolvimento durante a Idade do Ferro (LÓPEZ-CUEVILLAS 1989; 1990).

À visão reducionista do passado, opõem-se outras, como a de Júlio Carballo Arceo, -que partilhamos- para quem o castro deve ser entendido como um território muito mais amplo. Nesta perspectiva consideramos mais correcto designar o castro como povoado fortificado da Idade do Ferro, enquanto não se encontre outra definição que seja por si só muito mais abrangente e que inclua o espaço habitacional, a área defensiva e a sua envolvente, algo como povoado fortificado da Idade do Ferro e seu território ou sua área de influência. Povoado fortificado é, também, uma definição mais ampla, no sentido de incluir as várias designações que tradicionalmente se utilizam (castro, citânia, cividade). Pretende englobar todos os tipos de locais habitados durante a Idade do Ferro, independentemente do seu tipo construtivo, dimensões e sistema defensivo (ainda que fosse por defesas naturais) mas que, cronologicamente, teriam emergido nas épocas de transição Bronze/Ferro, na Idade do Ferro, ou Ferro/Romanização. Mesmo assim, como referimos, não é suficientemente abrangente, sobretudo no que diz respeito à sua realidade envolvente.

Parece haver, contudo, um consenso recente entre os diversos estudiosos de que a investigação sobre o fenómeno castrejo, considerados os parcos elementos disponíveis, a grandeza da área geográfica de implantação deste fenómeno, a sua larga perduração no tempo, a falta de investigações em grande parte do território e a cada vez mais frequente ocorrência de particularidades distintivas de cada nova área em estudo, que colocam novas questões, não permite qualquer tentativa de sistematização com pretensões globalizantes.

Não obstante todos os estudos que se têm desenvolvido, sobretudo na área galega, não se pode considerar que actualmente as investigações relacionadas com os povoados fortificados da Idade do Ferro tenham atingido um ponto de saturação. Pelo contrário, apesar de se terem conseguido grandes avanços no conhecimento da fase inicial desta cultura, e do seu em contacto, no final, com o mundo romano, todo o desenrolar das fases intermédias apresenta-se ainda muito confuso, sobretudo pelas diversas nuances que estas fases desenvolveram consoante as diversas áreas geográficas onde se situam os povoados.

Dolores Fernández-Posse (1998) considera que, nas últimas décadas, os conhecimentos sobre esta cultura não evoluíram significativamente, na medida em que - segundo defende -, não é teorizando pormenorizadamente sobre as estratigrafias associadas à procura de datas de radiocarbono cada vez mais antigas que se vão solucionar os problemas evolutivos. A falta de uma base teórica sólida e de uma metodologia conveniente dificultou os trabalhos dos arqueólogos de outros tempos, se assim não fosse estes teriam evoluído mais no conhecimento do que o que se conseguiu com os projectos actuais, que beneficiam de uma evolução metodológica outrora inexistente.

No decorrer das duas últimas décadas, a investigação sobre os povoados fortificados do noroeste peninsular, sobretudo no caso português, tem feito bastantes progressos mercê de uma série de projectos de investigação que se dedicaram a este tipo de comunidade. Infelizmente, nos últimos anos, essa investigação sofreu um abrandamento significativo, não estando a decorrer, tanto quanto julgamos saber, qualquer projecto de investigação cuja temática esteja especificamente relacionada com os povoados fortificados da Idade do Ferro do noroeste português. Facto, que derivará, eventualmente, de uma política cultural e orçamental incorrecta, fomentada pelos últimos governos, em que os financiamentos a projectos de investigação são muito baixos ou nulos. Por outro lado, a chamada arqueologia de gestão tem dado os seus frutos, através dos diversos projectos de valorização de povoados deste âmbito cronológico.

Outro tipo de investigação, de que raramente se vêm os resultados, é a que resulta dos trabalhos da arqueologia empresarial, - acompanhamentos, estudos de impacte, escavações diversas -, embora com pouca incidência nestes povoados.

Infelizmente, também na Galiza, nos últimos anos, a arqueologia de investigação tem dado lugar às escavações de emergência, aos estudos de impacte, à arqueologia de gestão, a qual embora necessária, têm prejudicado o evoluir das investigações, dos projectos de investigação e das escavações sistemáticas. Esta panorâmica pouco animadora é ainda agravada pela diminuição de publicações ou no caso das intervenções da arqueologia de gestão pela sua ausência, resultando num desconhecimento por parte dos investigadores do que de realmente se passa em termos de novas descobertas (ACUÑA CASTROVIEJO 1996; PEÑA SANTOS 1996).

Outro elemento que tem levado “ao perigoso entorpecimento em que se encontra a Arqueologia Galega em geral e, em particular (...), a relacionada com o mundo castrejo (...) é o celtismo como sinal de identidade galega (PEÑA SANTOS 1996, 67), fruto também, no dizer deste autor, da “proliferação galopante da literatura arqueológica pseudocientífica (...) que veio encher o profundo buraco criado pela ausência de procura da sociedade de informação, devido ao descrédito da produção “oficial” e a recusa, por inteligível e pelo aborrecido, do discurso dos diversos arqueólogos” (id., ib.).


2. OS MODELOS INTERPRETATIVOS SÓCIO-CULTURAIS E A EVOLUÇÃO CRONOLÓGICA

Os modelos utilizados em Arqueologia foram importados, regra geral, das Ciências Sociais. São representações do passado resultantes da metodologia utilizada no processo de investigação e reflectem, no fundo, a capacidade de cada investigador para construir teoricamente esse passado.

No que respeita ao tema em análise, designadamente os modelos interpretativos sócio-culturais relativos à Cultura Castreja, verifica-se que tanto investigadores portugueses como espanhóis, trabalham e escrevem sem optarem por qualquer tipo de corrente teórica, ainda que se debrucem, naturalmente e cada vez mais, sobre os modelos interpretativos e evolutivos desta cultura.

Os estudos sobre a Idade do Ferro ocorrem a partir do século XVI e tem continuidade no século seguinte, configurando-se o que se poderá designar de primeiro modelo interpretativo, embora se verifique uma reduzida coerência das explicações, dado que os estudos dessas épocas derivam da curiosidade de alguns eruditos sobre a monumentalidade das ruínas dos castros aos quais eram atribuídas cronologias diversas, designadamente romanas, e a funcionalidade de fortalezas.

O modelo seguinte corresponde cronologicamente ao século XIX e deriva da corrente caracterizadora de toda a cultura de então, o Romantismo. É nesta época que, pode-se considerar, se dá o nascimento da arqueologia dos castros, especialmente com os trabalhos de Francisco Martins Sarmento. Preconizando ideais tradicionalistas e patrióticos é criado o conceito de “cidades mortas”, no sentido da procura das origens das diversas regiões. Os estudos são, assim, imbuídos de um carácter regionalista amador, resultante do isolamento dos diversos investigadores, que infelizmente, só é ultrapassado nos anos oitenta do século XX.

O terceiro modelo, apelidado de histórico-culturalista ou historicista, tem as suas balizas cronológicas nos anos 20 e 30 do século XX. Em termos conceptuais, podemos falar de uma reflexão sobre a identidade e os particularismos regionais, cujo pioneiro foi P. Bosch Gimpera (1932; 1933; 1939; 1942), que apresentou o primeiro modelo interpretativo coerente, nascido da grande quantidade de achados que iam surgindo e para os quais os investigadores apenas procuravam filiações étnicas. Este autor não só sistematizou a cultura dos castros, posteriormente apelidada de Castreja, como lhe atribuiu uma cronologia, inserindo-a na Idade do Ferro Peninsular e considerando-a uma cultura de tradição pós-hallstática, dadas as características das armas e das peças de ourivesaria conhecidas. Organizou, igualmente, os dados existentes sobre a Cultura do Bronze do Sudoeste, mais tarde designada de Cultura do Bronze Atlântico (actualmente também questionada), pelo que eram estas duas culturas que caracterizavam o noroeste ibérico no I milénio a.C..

A partir daqui, durante cerca de cinquenta anos, houve, a preocupação essencial de caracterizar a cultura material castreja, definir a sua área geográfica, os grupos étnicos que a ocupavam e perspectivar a sua evolução cronológica, tendo F. Lopez Cuevillas sido um dos maiores sistematizadores dos diversos temas, sobretudo nos anos 50. Nesta lógica, todos os assuntos eram estudados num esforço de sistematização, procurando-se o traço comum que cada tópico desta cultura teria, por exemplo, em termos de arquitectura, arte decorativa arquitectónica, escultura, monumentos com forno, metalurgia, cerâmica, ourivesaria, etc.

Pela falta de metodologia que persistiu até aos anos 80, os estudos eram baseados num enquadramento cronológico relativo e não absoluto, no qual o contexto estratigráfico não era considerado.

A Cultura dos Castros foi, pois, definida com base num conjunto de vestígios materiais, provenientes dos castros mas, regra geral, descontextualizados. De resto, o esquema cronológico-evolutivo era baseado no estudo dos fósseis directores, que justificavam todas as migrações, conquistas, em suma, todas as influências externas.

O Castro era tido como uma povoação com casas redondas, em pedra, fortemente amuralhada, situada no alto de um monte e, cuja origem se deveria à invasão indo-europeia dos Sefes (na primeira metade do séc. VI a.C.), como defende L. Cuevillas (1953 [1989] 37 e 332), povo esse referido por Avieno na “Ora Marítima”.

Paralelamente, tentava-se definir os povos que o habitavam e a sua evolução social, sobretudo através das fontes literárias clássicas e da linguística, concedendo-se um grande destaque à celtização do noroeste, a qual gerou – e ainda continua a gerar - abundante bibliografia.

Deste modo, criaram-se estereótipos desta “Cultura” que ainda hoje perduram em diversos meios, designadamente nos manuais escolares, onde se defende, basicamente, a existência de uma cultura céltica, que povoou aldeias do tipo castro, por todo o noroeste peninsular, uma área limitada por fronteiras mais ou menos rígidas, com grande uniformidade, durante a Idade do Ferro. Uma ideia que deriva sobretudo da sistematização da literatura clássica, do estudo de grandes povoados como Briteiros, Sanfins, Mózinho, Santa Tecla entre outros, e cuja cronologia, sabemos hoje, é bastante tardia e, de forma alguma, caracterizadora de toda a evolução da ocupação do noroeste peninsular durante a Idade do Ferro.

Segundo esta corrente historicista, a emergência da cultura castreja, as alterações, a evolução cronológica derivam, essencialmente, numa atribuição reducionista, de modelos migracionistas, invasionistas ou difusionistas. Nesta perspectiva, podemos identificar, grosso modo, quatro grandes grupos de opiniões sistematizadoras desta “Cultura” e da sua evolução cronológica aos quais nos anos 90 se associam outras, que no entanto já não se enquadram no âmbito desta corrente.

No primeiro grupo incluímos investigadores como P. Bosch Gimpera (1932; 1933; 1939; 1942), Santa Olalla (1946), F. Lopez Cuevillas (1953 [1989], 1954), Blanco Freijieiro (1960) e Mário Cardoso (1962) que justificam a emergência e evolução cronológica e cultural do noroeste com base em invasões indo-europeias e célticas, pautando-se a sua evolução posterior por influxos externos, designadamente hallstáticos e romanos.

Num segundo grupo, ideologicamente muito próximo do anterior, temos investigadores como C. Hawkes (1971), novamente Mário Cardoso (1958), C. A. Ferreira de Almeida (1983, 1983a, 1986), A. Castroviejo (1977), A. Tranoy (1981) e Armando Coelho (Silva 1986). Defendem que a evolução de alguns elementos culturais deriva de alterações internas. Também, e simultaneamente, que a emergência e as alterações significativas são justificadas pelas influências hallstáticas e pela conquista romana.

No terceiro grupo, incluem-se aqueles que enquadram a emergência dos castros no contexto do Bronze Final. O percursor desta corrente foi J. Maluquer de Motes (1973), que nos anos 70, considerou a evolução dos povoados como resultado de um processo cultural local, favorecido por uma adaptação particular ao meio (MALUQUER DE MOTES 1973).

Nos anos oitenta e posteriores diversos investigadores, na sequência do defendido anteriormente, entendem a emergência dos povoados castrejos como resultado do desenvolvimento da metalurgia do bronze, evidentemente enquadrados nas características geomorfológicas do noroeste peninsular. Esta nova teoria ganha força através das primeiras datações de C14 que antecipam para a primeira metade do I milénio a.C. a cronologia de alguns povoados como o Coto da Pena (SILVA 1986), S. Julião e Barbudo (MARTINS 1990). Armando Coelho Ferreira da Silva por utilizar uma série de elementos externos para justificar a evolução da Cultura Castreja (nomeadamente de origem atlântica, centro europeia, meridional e romana) é o principal representante desta corrente historicista, sendo o seu esquema evolutivo o mais conhecido e citado.

O quarto grupo, por último, é fruto das investigações posteriores aos anos oitenta que originaram novas interrogações. Os seus mentores são bastante críticos em relação aos modelos defendidos anteriormente, e valorizam mais a evolução cronológica, política, económica, social e cultural, inserida no contexto geomorfológico e ambiental de cada sociedade. Valorizam, em suma, a totalidade do registo arqueológico.

Trata-se de um modelo mais positivista, na medida em que recorre à contextualização estratigráfica, às datações por radiocarbono, às análises antracológicas, carpológicas, palinológicas e edafológicas, ao estudo dos povoados mediante a utilização de modelos de arqueologia espacial, nomeadamente o estudo da evolução dos processos económicos e sociais das comunidades da Idade do Ferro e sua inserção na evolução da paisagem (CARBALLO ARCEO 1996a; 1997).

Na Galiza desenvolveram-se diversas investigações enquadráveis nas teorias interpretativas da Arqueologia da Paisagem (CRIADO BOADO 1993a; 1993b), e estudos aplicados, designadamente na província da Corunha (PARCERO OUBIÑA 1995). A estes foram associadas também novas metodologias apoiadas no emprego de Sistemas de Informação Geográfica (SIG), de forma a definir os diversos modelos de ocupação nas várias fases da Idade do Ferro (PARCERO OUBIÑA 2000).

Em termos histórico-evolutivos, a sequência passa a ser menos segmentada por factos históricos e artefactos, mais conforme aos processos de dinâmica económica e social da Nova História. Esta nova perspectiva, que permanece até à actualidade, não rejeita obviamente as influências externas. Olha para os produtos alógenos como elementos dinâmicos, produto de relações inter-regionais e extra-regionais, ao mesmo tempo motores de alterações e mudanças no seio da comunidade autóctone, já que muitas vezes são o motivo da produção de excedentes ou do seu aumento, por exemplo, no que respeita a extracção de minérios para troca com os produtos vindos do exterior. Com esses produtos viajam, evidentemente, ideias e tecnologias.

Cada vez mais se aposta na explicação da emergência dos povoados fortificados, nos inícios do I milénio a.C., como resultado de diversos contextos geomorfológicos, no quadro do desenvolvimento económico agro-pastoril e metalúrgico, e da complexificação social que se terá generalizado nesta época.

Os bens de prestígio não parecem ser apenas os objectos materiais mas também, como desde outras épocas até à actualidade, a posse da terra - um factor preponderante no sentido da monumentalização dos povoados, como elemento de ostentação de poder e de controlo de demarcação territorial de visibilidade que se terá desenvolvido.

É muito interessante verificar a diversidade de novas teorias resultantes das diversas perspectivas pós anos 80/90 como, por exemplo, as de alguns autores que defendem que a expedição de Décimo Júnio Bruto (em 138-136 a.C.) terá funcionado como um motor de desenvolvimento da região, nos finais do milénio.

Quanto a nós, terá sido um motor de união entre os povos autóctones e, em algumas zonas, motor de transformação em consequência das novidades trazidas pelos romanos. Contudo, esse desenvolvimento coincidente com a última fase da Idade do Ferro, verificou-se apenas em determinados locais, pois em outras zonas as transformações resultaram na criação de povoados relativamente diferentes, mais pequenos e camuflados na paisagem, como aconteceu na área da bacia superior do rio Coura, eventualmente com alterações que se reflectem na cultura material, mas não nas habituais formas de desenvolvimento e de prosperidade características de povoados de grande envergadura e de longa duração como Sanfins, Briteiros ou Santa Tecla. Esse grande desenvolvimento com a existência de povoados dominantes aconteceu em fases anteriores na área da bacia superior do rio Coura e, ainda que parcialmente, na bacia do rio Minho.

Apesar de muitos autores terem apresentado várias cronologias e opções de evolução sobre a Idade do Ferro, este é um dos problemas que permanece em aberto.

A maioria dos autores portugueses divide esta cultura em três ou cinco etapas cronológicas: Carlos A. F. de Almeida (1983) apontou cinco períodos de desenvolvimento e evolução da “Cultura Castreja”: o Pré-Castrejo, o Castrejo Antigo, o Médio, o Recente e o Final; Armando C. Silva (1986, 65) sugere três períodos para a Idade do Ferro, cada um deles subdividido em duas fases; Manuela Martins (1990, 113) indica quatro etapas e Jorge Alarcão (1992, 43) três.

A síntese das diversas teorias elaborada por Felipe Árias Vilas (1996) é bastante interessante, na medida em que caracteriza, quase século a século, os elementos mais marcantes de cada período. Além disso, faz terminar o “Castrejo Final” em época bastante tardia (século V d. C.) o que, a nosso ver, será mais condizente com a realidade das diversas regiões, do que as posições que colocam o fim do castrejo no século I d.C..

Parece-nos que este processo foi muito mais lento do que o que se tem referido ao longo dos tempos, pois, se o abandono da maioria dos povoados é uma realidade, o modus vivendi autóctone continua - ainda que com alterações resultantes do contacto com os romanos - até épocas tardias, embora possa não atingir o século V como Árias Vilas propõe. O final da cultura castreja varia conforme as zonas e o respectivo interesse que os romanos manifestavam por cada uma em particular.

O incremento da quantidade e da qualidade das escavações arqueológicas realizadas na última década traduziu-se num avanço significativo em termos de obtenção de dados cronológicos. Se até recentemente se considerava que estes povoados tiveram o seu início no século VII a.C. (FARIÑA BUSTO et alii, 1983), a escavação de novos assentamentos, como Penalba (ALVAREZ NÚÑEZ 1986) e Torroso (PEÑA SANTOS, 1982), associada aos resultados das investigações desenvolvidas no norte de Portugal, permitiu antecipar a cronologia inicial dos povoados fortificados para o século Vlll a.C., existindo alguns cuja datação aponta para finais do século IX a.C. (CARBALLO ARCEO e FÁBREGAS VALCARCE 1991).

Uma síntese de diversos autores permite-nos verificar a problemática que se coloca face ao estabelecimento da cronologia inicial desta etapa. O início estipulado por cada autor é, por consequência, muito variável:

- Carlos Alberto Ferreira de Almeida (1983) - finais do século IV a.C.;

- Armando Coelho F. Silva (1986) - século VI a.C.;

- Manuela Martins (1990) - época de transição entre os século VI / V a.C.;

- Jorge Alarcão (1992) - século VII a.C.;

- Xulio Carballo Arceo (1990) - século V a.C.;

As perspectivas mais recentes dos arqueólogos ditos processualistas, designadamente Ana Bettencourt, Brochado de Almeida e A. Dinis no caso português e Júlio Carballo Arceo, na Galiza, admitem para o norte de Portugal e para a Galiza a existência de diversas assimetrias, pelo que a Idade do Ferro terá surgido e desenvolvido de forma diferente nas várias áreas geográficas, apontando-se uma origem mais antiga para as áreas litorais e uma mais recente para as zonas interiores: segundo quartel do I milénio a.C. (BETTENCOURT 2001) e primeira metade do século IV a.C. (CARBALLO ARCEO 1990), respectivamente.

Se as etapas cronológico-culturais sugerem interpretações diferentes dos diversos autores, também o modelo teórico sobre o povoamento -nomeadamente no que diz respeito ao plano económico e social- difere. Armando Coelho Silva (1992), Manuela Martins (1990; 1996) e Jorge Alarcão (1992; 1996) consideram que a relativa pobreza do registo arqueológico da Idade do Ferro Inicial deriva de uma recessão e mesmo de um retrocesso em relação às sociedades do Bronze Final, no que respeita à metalurgia do bronze, à agricultura e ao intercâmbio supra-regional.

Contudo, outro grupo de arqueólogos, como J. Carballo Arceo (1989; 1990) e A. Peña Santos (1992) considera que, na Galiza, e na mesma época, ocorre uma intensificação da agricultura e um incremento de contactos supra-regionais, designadamente entre o noroeste e a área meridional. Da mesma ideia partilham Ana Bettencourt (2001) e Francisco Queiroga (1992), que defendem não ter havido uma recessão da metalurgia do bronze uma vez que são os objectos desta liga que dominam praticamente toda a Idade do Ferro “até ao século I a. C.” (BETTENCOURT 2001, 45). Estes elementos são igualmente comprovados pelas escavações que desenvolvemos nos povoados fortificados de Cossourado (Figs. 1 a 4) e Romarigães (Figs. 5 e 6) na bacia superior do rio Coura (concelho de Paredes de Coura, Alto Minho).

Figura 1

Figura 2

Figura 3

Figura 4

Sobre a agricultura, através da síntese elaborada por Ana Bettencourt (2001), considera-se a existência de “um dinamismo agro-silvo-pastoril crescente que, embora a ritmos distintos, de região para região, terá focado todo o noroeste Português” (2001, 44 e 45) e peninsular. A mesma autora comprova, igualmente, a inexactidão referida em relação ao enfraquecimento do intercâmbio supra-regional. Além da sua manutenção, defende mesmo o seu crescimento nesta época e em épocas posteriores, tanto na bacia do rio Coura, como na bacia do rio Minho e em toda a área litoral do noroeste peninsular, onde os diversos autores vão registando cada vez mais artefactos que se convencionou designar de importação. É o caso de cerâmicas com motivos estampilhados, cerâmicas púnicas, áticas, vidros, fíbulas designadas de tipo Santa Luzia e anulares hispânicas, objectos e técnicas da metalurgia do ferro e matérias-primas, como sílex e chumbo.

Os estudos da última década tiveram como factor preponderante a associação dos estudos arqueológicos com os resultantes das análises paleoecológicos, com a elaboração de novos modelos interpretativos resultantes do estudo de novos povoados até então nunca intervencionados e com a cultura material obtida – de onde resultaram novas e diversificadas teorias explicativas.

Figura 5

Figura 6

2.1 As fases radiocarbónicas

O crescente interesse pelo estudo dos povoados e a utilização de métodos de datação absoluta, designadamente os radiocarbónicos (C14), têm proporcionado resultados diversos, tendo sido neste domínio, aliás, que as mudanças se têm feito sentir de forma mais evidente, não tanto pela quantidade das séries (no caso português as séries castrejas ainda são escassas) mas porque várias datações anteciparam, a antiguidade dos povoados fortificados da Idade do Ferro, ajudando a sublinhar as teorias que defendiam a sua emergência no Bronze Final, ainda que o registo arqueológico seja pouco claro. Por outro lado, parecem indicar o fraco desenvolvimento da Idade do Ferro na sua fase final, concretamente no contacto com o mundo romano.

A catalogação que fizemos de grande parte das datações radiométricas efectuadas em povoados do noroeste português (Quadro I), mediante o recurso a diversa bibliografia, permitiu coligir uma série de 32 datas, para além, das 10 inéditas que apresentamos referentes aos povoados por nós estudados em Paredes de Coura (Cossourado, Romarigães e Cristelo – Figs. 7 e 8), perfazendo, assim, um total de 42.

Figura 7

Figura 8

A estas datações, devidamente calibradas (na maioria dos casos pela curva de Stuiver e Pearson (1993)) e, sempre que possível, considerados os seus contextos arqueológicos, foram retiradas aquelas que os diversos autores refutam em relação ao registo arqueológico.

Se agruparmos as datas radiocarbónicas B.P e os seus intervalos pela ordem cronológica (Gráfico I) - seja em datas radiocarbónicas B.P. ou datas históricas -, essas datas articulam-se em grupos que nos permitem retirar algumas conclusões, ainda que possam não ser acompanhadas pelo registo arqueológico actualmente conhecido. O gráfico respeitante às datas convertidas (Gráfico II) permite-nos, naturalmente, uma análise mais rápida e uma articulação mental e cronológica mais simples.

Gráfico I

Gráfico II

Mediante a análise dos gráficos é possível agrupar algumas datas e consequentemente alguns povoados que parecem definir, mais numas épocas que noutras, diversas etapas cronológicas que se organizam, genericamente, em cinco grupos, dentro dos quais se observam algumas variações. Este esquema evolutivo apresenta-se relativamente diferente dos habitualmente defendidos para a evolução da Cultura Castreja.

No primeiro grupo temos os povoados com níveis mais antigos, como S. Julião, Santinha, Barbudo, Cabanas e Coto da Pena, correspondentes ao intervalo compreendido entre o século X e meados do IX, ou seja, ao período de tempo atribuído ao Bronze Final. Neste grupo de datas registam-se, aparentemente, três subgrupos: um mais antigo, entre 980 e 940 a.C., que inclui os povoados de Coto da Pena e S. Julião; um outro intermédio, entre 890 e 878, relativo a S. Julião e Santinha; e, um mais recente, entre 850 e 843, relativo aos povoados da Santinha e de Cabanas.

No segundo grupo surgem os povoados de Santinha, S. Julião, Barbudo, Castelo de Matos, Cossourado, Senhora da Guia e Ermidas. É o grupo que possui maior quantidade de datas e cronologicamente está compreendido entre o século IX e o VIII, período que podemos considerar como relativo aos inícios da Idade do Ferro. Estranhamente, apenas neste grupo aparecem pela primeira vez os povoados cronologicamente atribuídos ao Bronze Final, como o de Castelo de Matos, em Baião, e o da Senhora da Guia, em S. Pedro do Sul. Trata-se de um grupo mais homogéneo que o anterior, mas que também poderia ser subdividido em dois ou três grupos; essa subdivisão, no entanto, tal como as anteriores, não nos traria qualquer informação adicional.

O terceiro grupo é aquele em que as datações apresentam menos unidade entre si, e intervalos muito longos, e que, tradicionalmente, coloca mais problemas aos técnicos de datações. Situa-se cronologicamente entre os séculos VII e V, período onde se enquadram algumas das datações referentes aos povoados da bacia superior do rio Coura, como Cossourado e Romarigães, e as estações como Romariz, Vasconcelos, Ermidas e S. João de Rei. São cronologias que se inserem no que podemos designar por Castrejo Antigo.

Um quarto grupo que, ao contrário do anterior, é o mais uniforme da série de datações situa-se entre 290 e 210 a.C. (século III), e corresponde ao período onde se enquadram os povoados de Cossourado, Romarigães, Santo Estevão da Facha e S. João de Rei. Correspondente a uma fase a que podemos chamar de Castrejo Médio.

Tal como na Galiza (REY CASTIÑEIRA 1996), o povoamento castrejo parece entrar em decadência a partir do século II a.C.. Nesta seriação cronológica estão totalmente ausentes as datas referentes a esse intervalo de tempo (século II a.C.) e que formariam o quinto e último grupo, correspondente ao inicio da fase final da Idade do Ferro. Apenas existem duas datas relativas ao povoado de Cristelo (Paredes de Coura), atribuíveis ao século I a.C..

Supomos que, pelo menos na área portuguesa, não foram publicadas datações de povoados de cronologia recente, quando, na verdade, sabemos que existem vários. Estranhamente, também o século IV não apresenta qualquer datação.

Posto isto, podemos considerar esta seriação radiocarbónica como um indicador de localização no tempo de cada povoado ou das suas diversas fases de ocupação, um auxiliar precioso dos diversos esquemas evolutivos dos povoados fortificados da Idade do Ferro, não devemos, no entanto, tomá-la como uma base dos estudos e, muito menos, o alicerce das periodizações de qualquer esquema evolutivo.

Apesar de que nos últimos tempos os estudos parecem centrar-se no facto de que diversos autores quererem, de alguma forma, apresentar novidades, sobretudo no que diz respeito à evolução cronológica da cultura castreja, e, especialmente, em relação à época da sua emergência. Assim, alguns autores aceitam o aparecimento dos castros no Bronze Final e, consequentemente, a sua grande antiguidade, enquanto outros defendem que a cultura castreja apenas ocorre no momento em que se inicia a petrificação das estruturas (século IV para uns século VI a. C. para outros). Outros investigadores, como Ana Bettencourt (2004a; 2004b), apontam o início da cultura castreja apenas para o século IV a.C., ou, numa versão mais recente, para os primeiros séculos da romanização, excluindo praticamente a existência de uma Idade do Ferro e de uma cultura castreja.

Quadro I – Datações radiométricas dos povoados do noroeste português

Proveniência

Contexto (estratigrafia, estrutura, quadrado)

Referência do laboratório

Datação C14 (B.P.)

Conversão

Datas Calibradas

Intersecções; 2 sigma-cal AC

Tipo de amostra

Bibliografia

Observações

COSSOURADO - Paredes de Coura

COS 94A - Quadrado M0 (camada 3)

Interior da cabana 1

UGRA-503: 2220 ± 80

Entre 350 e 190 a.C.

Sécs. IV e II a.C.

Intersecções: 353, 304, 208 cal AC

2 sigma (95,4%): 400 – 58

Bolotas de carvalho carbonizadas

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_

COSSOURADO - Paredes de Coura

COS 94A - A0/AA0 (2)

Interior da cabana 1

UGRA-505: 2240 ± 80

Entre 370 e 210 a.C.

Sécs. IV e III a.C.

Intersecções: 361, 282, 257 cal AC

2 sigma (95,4%): 411- 47

Tipo de giesta;
Quercus suber (sobreiro);
Sambucus sp. (sabugueiro);
Pistacia lentiscus (lentisco)

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_

COSSOURADO - Paredes de Coura

COS 97D - GO (3)

Parte interna da muralha

UGRA- 556 2230 ± 80

Entre 360 e 200 a.C.

Sécs. IV e II a.C.

Intersecções: 357; 288; 250 cal AC

2 sigma (95,4%): 404- 55

Madeira carbonizada

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_

COSSOURADO - Paredes de Coura

COS 95A - Q5 (3)

Interior da cabana 5

Sac-1505: 2590 ± 40

Entre 680 e 600 a.C.

Sécs. VII e VI a.C.

Intersecção: 795 cal AC

2 sigma: 815-762; 622-599 cal AC

Bolotas carbonizadas

_

_

COSSOURADO - Paredes de Coura

COS 96C - B3 (3)

Interior da cabana 1C

Sac-1493: 2680 ± 40

Entre 770 e 690 a.C.

Sécs. VIII e VII a.C.

Intersecção: 818 cal AC

2 sigma: 903-796 cal AC

Madeira carbonizada

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ROMARIGÃES - Paredes de Coura

ROMA 94A - N2 (3)

Dentro da cabana 1

UGRA-502: 2400 ± 70

Entre 520 e 380 a.C.

Sécs. VI e IV a.C.

Intersecção: 407 cal AC

2 sigma (95,4%): 771 – 369

Quercus sp. caducifólio (carvalho)

_

_

ROMARIGÃES - Paredes de Coura

ROMA 93A - M0 (3)

Dentro da cabana 1

UGRA-50 2200 ± 80

Entre 330 e 170 a.C.

Sécs. IV e II a.C.

Intersecções: 337, 324, 202 cal AC

2 sigma (95,4%): 393 – 50

Populus sp. (choupo ou álamo)

_

_

ROMARIGÃES - Paredes de Coura

ROMA 96A - M2 (3)

Dentro da cabana 1

Sac-1494: 2500 ± 40

Entre 590 e 510 a.C.

Séc. VI a.C.

Intersecções = 760; 672; 665; 632; 592; 584; 560 cal AC

Para 2 sigma = 793 - 411 cal AC

Madeira carbonizada

_

_

CRISTELO - Paredes de Coura

CRIS 97A - D2 (3)

1ª FASE - exterior da cabana 1

UGRA-555 1890 ± 60

Entre 120 a.C. e 0

Sécs. II a.C. e I a.C.

Intersecção: 125 cal AC

2 sigma (95,4%): 1 - 255 e 299 - 317

Madeira carbonizada

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_

CRISTELO - Paredes de Coura

CRIS 98A - M0,M1 e N0 (3)

2ª FASE - dentro da cabana 3

UGRA-580: 2040 ± 70

Entre 160 e 20 a.C.

Sécs. II a.C. e I a.C.

Intersecção: 36 cal AC

2 sigma (95,4%): 330 - 330 e 200 – 126

Leguminosas do tipo giestas, codeços e tojo

_

_

COTO DA PENA - Caminha

Campanha de 1980-83

UGRA-200: 2930 ± 100

Entre 1080 e 880 a. C.

Sécs. XI e IX a. C.

1420-900 a. C.

2 sigma: 1406-842 a. C.

Sementes carbonizadas

SILVA 1986, 34

Atribuição cronológica do autor: Bronze Final/Ferro Inicial

COTO DA PENA - Caminha

Campanha de 1980-83

UGRA-220: 2920 ± 100

Entre 1070 e 810 a. C.

Sécs. XI e IX a. C.

1420-840 a. C.

2 sigma: 1401-836 a. C.

Sementes carbonizadas

SILVA 1986, 34

Atribuição cronológica do autor: Bronze Final/Ferro Inicial

STO. ESTEVÃO DA FACHA - Ponte de Lima

Quadrado QXIII (10)

Campanha de 1979-80

CSIC-400: 2160 ± 50

Entre 260 e 160 a. C.

Sécs. III e II a. C.

380-100 a. C.

Carvão vegetal

ALMEIDA et alii 1982, 79

_

STO. ESTEVÃO DA FACHA - Ponte de Lima

Quadrado QXIII (10)

Campanha de 1979-80

CSIC-500: 2210 ± 50

Entre 310 e 210 a.C.

Sécs. IV e III a.C.

390-122 a. C.

Carvão vegetal e sementes carbonizadas

ALMEIDA et alii 1982, 79

_

BARBUDO - Vila Verde

Estrutura de madeira; corte 4, camada 2

Campanha de 1983-85

ICEN-21: 2650 ± 40

Entre 740 e 660 a.C.

Sécs. VIII e VII a.C.

898-794 a. C.

Carvão vegetal

MARTINS 1989, 66

_

BARBUDO - Vila Verde

Estrutura de madeira; corte 4, camada 2

Campanha de 1983-85

CSIC-735: 2750 ± 60

Entre 860 e 740 a.C.

Sécs. IX e VIII a.C.

1040-810 a. C.

Carvão vegetal

MARTINS 1989, 66

_

BARBUDO - Vila Verde

Estrutura de madeira; corte 4, camada 2

Campanha de 1983-85

CSIC-735R: 2740 ± 50

Entre 840 e 740 a.C.

Sécs. IX e VIII a.C.

1000-810 a. C.

Carvão vegetal

MARTINS 1989, 66

_

S. JULIÃO - Vila Verde

Sector B, corte I, camada 1b

Exterior do talude e do fosso

Campanha de 1982-84

ICEN-23: 2700 ± 40

Entre 790 e 710 a.C.

Século VIII a.C.

923-804 a. C.

Carvão vegetal

MARTINS 1988, 129

_

S. JULIÃO - Vila Verde

Corte 1, nível de base do talude defensivo da acrópole

Campanha de 1982-84

ICEN-27: 2890 ± 45

Entre 985 e 895 a.C.

Sécs. X e IX a.C.

1259-931 a. C.

Carvão vegetal

MARTINS 1988, 126-127

Esta datação define, segundo a autora, o terminus post quem da construção do talude defensivo da acrópole

S. JULIÃO - Vila Verde

Corte 1, nível de base do talude defensivo da acrópole

Campanha de 1982-84

ICEN-28: 2820 ± 40

Entre 910 e 830 a.C.

Sécs. X e IX a.C.

1094-900 a. C.

Carvão vegetal

MARTINS 1988, 126-127

_

S. JULIÃO - Vila Verde

Corte 1, nível de base do talude defensivo da acrópole

Campanha de 1982-84

GIF-6993: 2840 ± 80

Entre 970 e 810 a.C.

Sécs. X e IX a.C.

1260-830 a. C.

Carvão vegetal

MARTINS 1986, 159;

MARTINS 1988, 126-127

_

S. JULIÃO - Vila Verde

Corte 3, camada IIIa, camada que sobrepõe o pavimento mais recente de uma cabana

Campanha de 1985

GIF-7013: 2750 ± 60

Entre 860 e 740 a.C.

Sécs.I X e VIII a.C.

1040-810 a. C.

Carvão vegetal

MARTINS 1986, 159;

MARTINS 1988, 126-128

_

S. JULIÃO - Vila Verde

Corte 1, nível de base do talude defensivo da acrópole

Campanha de 1982-84

CSIC-734: 2900 ± 50

Entre 1000 e 900 a.C.

Sécs. X e IX a.C.

1260-932 a. C.

Carvão vegetal

MARTINS 1988, 130

_

S. JULIÃO - Vila Verde

ICEN-829: 2660 ± 45

Entre 755 e 665 a.C.

Sécs. VIII e VII a.C.

899-790 a. C.

_

BETTENCOURT 1994

_

SANTINHA - Amares

Corte 1, quadrado A6

CSIC-1145: 2800 ± 33

Entre 883 e 817 a.C.

Séc. IX a.C.

2 sigma: 1016-890 a. C.

Carvão vegetal

BETTENCOURT 2001

Atribuição cronológica da autora: Santinha I, Bronze Final, séc. X a.C.

SANTINHA - Amares

Corte 2, camada 2

CSIC-1315: 2837 ± 27

Entre 914 e 860 a.C.

Sécs. X e IX a.C.

2 sigma: 1051-903

Carvão vegetal

BETTENCOURT 2001

Atribuição cronológica da autora: Santinha I, Bronze Final, séc. X a.C.

SANTINHA - Amares

Corte 1, quadrado A5

CSIC-1084: 2793 ± 53

Entre 896 e 790 a.C.

Séc. IX e VIII a.C.

2 sigma: 1052-826

Carvão vegetal

BETTENCOURT 2001

Atribuição cronológica da autora: Santinha I, Bronze Final, séc. X a.C.

SANTINHA - Amares

Corte 3, quadrado E10

Base da muralha, camada 1

CSIC-1085: 2761 ± 50

Entre 861 e 761 a.C.

Séc. IX e VIII a.C.

2 sigma: 1006-810

Carvão vegetal

BETTENCOURT 2001

Atribuição cronológica da autora: Santinha I, Bronze Final, séc. X a.C.

S. JOÃO DE REI/MONTE DO CASTRO - Póvoa de Lanhoso

Fossa 1 - corte I, quadrado D1, camada 6e

Ocupação mais antiga da plataforma superior do povoado

UtC-4784: 2220 ± 37

Entre 307 e 233 a.C.

Sécs. IV e III a.C.

2 sigma: 377-189 (100) a. C.

Carvão vegetal

BETTENCOURT 2000, 241

Análise por espectometria de massa com acelerador (AMS).

Atribuição cronológica da autora: Ferro Inicial - meados do século IV a inícios do II a. C. (S. João de Rei II)

S. JOÃO DE REI/MONTE DO CASTRO - Póvoa de Lanhoso

Contemporânea da Fossa 1 - quadrado E1, camada 6

Ocupação mais antiga da plataforma superior do povoado

CSIC-1146: 2183 ± 27

Entre 260 e 206 a.C.

Séc. III a.C.

2 sigma: 363-279; 252-157; 136-126

Carvão vegetal

BETTENCOURT 2000, 241

Análise por espectometria de massa com acelerador (AMS).

Atribuição cronológica da autora: Ferro Inicial - meados do século IV a inícios do II a. C. (S. João de Rei II)

S. JOÃO DE REI/MONTE DO CASTRO - Póvoa de Lanhoso

Corte 2: camada superior de uma fossa aberta no saibro - quadrado A2b, camada 3

Primeira ocupação do povoado -

CSIC-1149: 2435 ± 30

Entre 515 e 455 a.C.

Sécs. VI e V a.C.

2 sigma: 556-401; 761-672; 664-635

Carvão vegetal

BETTENCOURT 2000, 245

Atribuição cronológica da autora: transição da I. do Bronze para a I. do Ferro - finais do século VI a. C.

a finais do V a. C. (S. João de Rei I)

S. JOÃO DE REI/MONTE DO CASTRO - Póvoa de Lanhoso

Corte 2 - quadrado A2c, camada 3

Primeira ocupação do povoado

CSIC-1150: 2357 ± 30

Entre 437 e 377 a.C.

Sécs. V e IV a.C.

2 sigma: 426-375; 504-436

Bolotas carbonizadas

BETTENCOURT 2000, 245

Atribuição cronológica da autora: transição da I. do Bronze para a I. do Ferro - finais do século VI a. C.

a finais do V a. C. (S. João de Rei I)

S. JOÃO DE REI/MONTE DO CASTRO - Póvoa de Lanhoso

Corte 2 - “fossa” 2, quadrado A2c, camada 3

Primeira ocupação do povoado

CSIC-1150: 2443 ± 35

Entre 528 e 458 a.C.

Sécs. VI e V a.C.

2 sigma: 762-401; 595-575; 566-404

Bolotas carbonizadas

BETTENCOURT 2000, 245

Atribuição cronológica da autora: transição da I. do Bronze para a I. do Ferro - finais do século VI a. C.

a finais do V a. C. (S. João de Rei I)

CABANAS - Braga

Corte 1 - perfil A/B

UtC-5661: 2798 ± 29

Entre 877 e 819 a.C.

Séc. IX a.C.

2 sigma: 1003-892; 885-847

Carvão vegetal

BETTENCOURT 2000, 206

Análise por espectometria de massa com acelerador (AMS)

Atribuição cronológica da autora:séc. X a.C.

VASCONCELOS/MONTE DO CRASTO - Braga

Corte 1, camada 1b, quadrado B3

UtC-4328: 2504 ± 36

Entre 590 e 518 a.C.

Séc. VI a.C.

2 sigma: 791-494; 440-426

Carvão vegetal

BETTENCOURT 2000, 286

Atribuição cronológica da autora: séculos VII e VI a.C.

CASTELO DE MATOS – Baião

OxA-1759: 2730 ± 70

Entre 850 e 710 a.C.

Sécs. IX e VIII a.C.

1010-794 a. C.

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BETTENCOURT 1994

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CASTELO DE MATOS – Baião

OxA-2147: 2710 ± 90

Entre 850 e 670 a.C.

Sécs. IX e VII a.C.

1036-767 a. C.

_

BETTENCOURT 1994

_

CASTELO DE MATOS – Baião

OxA-2146: 2700 ± 90

Entre 840 e 660 a.C.

Sécs. IX e VII a.C.

1024-610 a. C.

_

BETTENCOURT 1994

_

ERMIDAS - Famalicão

Camada 5 - fase de construção da muralha

Campanha de 1983

GAK-11460: 2480 ± 120

Entre 650 e 410 a.C.

Sécs. VII e V a.C.

893-370 a. C.

Carvão vegetal

QUEIROGA 1985, 35

O autor considera que esta cronologia é mais antiga do que o contexto arqueológico em que se insere

ERMIDAS - Famalicão

Camada 5 - fase de construção da muralha

Campanha de 1983

GAK-11461: 2650 ± 120

Entre 820 e 580 a.C.

Sécs. IX e VI a.C.

1060-410 a. C.

Carvão vegetal

QUEIROGA 1985, 35

_

ROMARIZ - Vila da Feira

Nível mais profundo da escavação arqueológica

Campanha de 1980-82

UGRA-203: 2550 ± 100

Entre 700 e 500 a.C.

Sécs. VII e V a.C.

910-400 a. C.

Bolotas carbonizadas

SILVA 1986, 40

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SENHORA DA GUIA - Baiões, S. Pedro do sul

Campanha de 1973

GrN-7484: 2650 ± 130

Entre 830 e 570 a.C.

Sécs. IX e VI a.C.

1100-410 a. C.

Carvão vegetal e restos de madeira de uma ponta de lança, em bronze

KALB 1974-77, 141

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IDEIAS FINAIS

A conjugação e sistematização dos dados relativos à Idade do Ferro e aos povoados fortificados do noroeste remete-nos para a existência de uma sociedade aparentemente igualitária, com focos de maior desenvolvimento em determinadas épocas. Numa fase mais recuada, esse maior desenvolvimento regista-se nas zonas litorais e, numa fase mais recente, o foco de desenvolvimento inverte-se para o interior.

Essa sociedade igualitária estaria alicerçada em laços de sangue e organizada segundo grupos etários, sendo os “anciãos” o grupo de maior relevo social, tal como acontece na maioria das sociedades tribais (SILVA 1986; CARO BAROJA 1970; MARTINS 1990). Os dados epigráficos e iconográficos não favorecem, contudo, esta teoria, uma vez que apontam para a existência de um chefe guerreiro, representado nas esculturas de guerreiros galaicos. Os povoados estariam organizados então em castella, com um prínceps, e enquadrados dentro de civitates ou populi (TRANOY 1981; SILVA 1986).

Temos, pois, uma sociedade que evolui de formas de organização mais simples para outras mais complexas, atingindo, na transição do I milénio, uma grande complexificação, não só a nível da sociedade, como também dos povoados, com a reestruturação do ordenamento urbano e do sistema defensivo. Contudo, este florescimento deve ser encarado não como um fenómeno abrangente, mas como uma realidade regional, onde existiriam assimetrias, com épocas e áreas de desenvolvimento distintas. Simultaneamente verificar-se-ia a existência, numa mesma área, de povoados que se desenvolveram e tiveram continuidade durante os séculos da Idade do Ferro e da romanização, e outros que, sem motivo aparente, se extinguiram muito cedo - tal como alguns povoados fortificados da bacia superior do rio Coura -, não tendo atingido a complexificação social e a reestruturação urbanística registada noutros povoados.

Parece não existir dúvidas que, durante o último milénio a.C., o noroeste peninsular possuía uma unidade própria, quando comparado com outras áreas vizinhas, como pode ser o caso da Meseta norte espanhola ou do centro de Portugal. De facto, falarmos do noroeste peninsular durante o primeiro milénio a.C. significa algo mais do que referir uma simples situação espácio-temporal, já que a região possui uma componente cultural específica que a distingue de outras regiões vizinhas ou mais afastadas com distinta expressão cultural. Apesar do seu carácter periférico face a outras regiões, era uma sociedade permeável a influências externas designadamente através das rotas mediterrânicas que chegavam por via atlântica, já iniciadas na Idade do Bronze, e que se constatam nas suas várias fases evolutivas (REY CASTIÑEIRA 2000).

Essa identidade cultural do noroeste peninsular durante a Idade do Ferro manifesta-se na semelhança de atributos culturais, quer falemos da cultura material (metalurgia, ourivesaria, cerâmica), da organização do espaço, da forma de implantar os povoados no território, ou, ainda, da organização social. A prova disso é que, aquando da conquista romana, nos últimos anos do milénio, os historiadores e geógrafos greco-latinos registam a identidade dos povos galaicos, não se verificando a mesma situação em relação aos outros povos vizinhos. Ou seja, vistos do exterior, os povos do noroeste formavam uma unidade, apesar de não sabermos se eles próprios tinham consciência dessa identidade.

Falar de unidade não pressupõe, contudo, admitir a uniformidade. Ao afirmarmos que existe uma unidade cultural do noroeste face ao exterior, importa, todavia, matizar tal afirmação, visto existir, também, diversidade interna. Observa-se uma fragmentação regional bastante acentuada, que é testemunhada tanto pelos objectos da vida quotidiana (cerâmicas, objectos de metal, etc.), como por determinados indicadores de carácter económico e social (povoados, distribuição de bens de prestígio, etc.). Por outro lado, tal fragmentação é comum tanto na Galiza como no norte de Portugal, sem que se possa falar de uma diferenciação entre estas duas áreas, uma vez que parecem existir unidades, ou subunidades regionais, que afectam ambos os lados da actual fronteira político-administrativa. Exemplificando, verifica-se que os castros portugueses minhotos constituem uma forte unidade cultural com os seus congéneres galegos mais próximos do rio Minho (sul da Galiza), enquanto que estes, por seu turno, apresentam, geralmente, diferenças marcantes relativamente aos do norte da Galiza.

Em resumo, o noroeste peninsular constituiu, durante o último milénio a.C., um mosaico de povos que ocupam áreas mais ou menos extensas, com uma idiossincrasia própria, que se manifesta em segmentos da cultura material e noutras vertentes, estando, todavia, inseridos, no seu conjunto, numa realidade cultural aglutinadora de modelos e comportamentos sociais [1].


AGRADECIMENTOS

Gostaria de expressar os meus mais sinceros agradecimentos aos meus professores do Departamento de Pré-História e Arqueologia da Faculdade de Filosofia e Letras da Universidade de Granada, especialmente ao Prof. Doutor Francisco Contreras Cortés e ao meu orientador Prof. Doutor Pedro Aguayo de Hoyos, bem como aos membros do Júri de Doutoramento: Professores Doutores Martín Almagro Gorbea; Andrés Adroher Auroux; Armando Coelho Ferreira da Silva; Antonio Rodríguez Colmenero; Francisco Contreras Cortés; Javier Carrasco Rus y Fernando Molina González.


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[1] Este artigo é um resumo do ponto 2.2 do capítulo II da Tese de Doutoramento apresentada como Doutoramento Europeu em 08/06/2008 no Departamento de Pré-História e Arqueologia da Faculdade de Filosofia e Letras da Universidade de Granada, sob o título O Povoamento Proto-Histórico e a Romanização da Bacia Superior do Rio Coura: Estudo, Musealização e Divulgação.